Alimentos vivos ou alimentação viva

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Cozimentos em baixas temperaturas e o uso de grãos germinados prometem uma maior dose de saúde.

Por Ciça Vallerio – O Estado de S.Paulo

Alimentos vivos? Não se trata de minhocas, formigas nem de outros bichos. Mas, sim, de um programa que investe na prevenção de doenças por meio de uma alimentação baseada no consumo de frutas, legumes e verduras crus – ou, no máximo, amornados. Cereais, leguminosas e sementes germinadas também são valorizados na preparação de pratos e sucos.

Em vez de cozinhá-los, o segredo é colocá-los de molho na água até que brotem. Podem ser considerados “alimentos vivos” porque, sem a exposição a altas temperaturas, suas propriedades nutricionais são mantidas. Mais: germinar grãos e sementes potencializa suas propriedades, tornando-as poderosas fontes de vitaminas do tipo C, B, A e E.

É o que explica um dos principais divulgadores da alimentação viva, o médico e cirurgião Alberto Peribanez Gonzalez, pesquisador e especialista em microcirculação e fisiologia de órgãos e sistemas. Diante de um grupo de cerca de 30 mulheres e alguns poucos homens, ele ensina em quatro aulas gratuitas os macetes da cozinha saudável.

“Não é uma nova dieta, nem regime, mas sim uma culinária que se transforma em uma forma de viver”, avisa o autor do livro Lugar de Médico é na Cozinha, que passou por atualização e foi reeditado no ano passado pela Alaúde Editorial. O “curso” faz parte do projeto Oficina da Semente, idealizado por Gonzalez, com apoio da prefeitura de Osasco.

“A Oficina da Semente germinou no Rio de Janeiro, cresceu em Campos do Jordão e tornou-se flor em Osasco, mas em breve passa a ter âmbito nacional”, conta Gonzalez. Pela primeira vez, paulistanos têm acesso ao projeto Alimento Vivo, que por anos ficou concentrado em Campos do Jordão, onde está a sede da Oficina da Semente. Lá, o médico atuou no Programa de Atenção Básica de Saúde da Família da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Em Osasco, entre aulas práticas e teóricas, os participantes descobrem que o alimento cozido perde seus nutrientes. “Enzimas, biomoduladores e antioxidantes são destruídos pelo fogo”, explica Gonzalez, de 48 anos. “Já em um prato amornado, as bactérias naturais e benéficas não são degradadas, aumentando a concentração de fitonutrientes e de agentes antioxidantes.”

O segredo para manter a temperatura correta na preparação dos pratos é cozinhar com as mãos, em panela de barro ou de ferro. Ao sentir o primeiro sinal de calor excessivo, é hora de desligar o fogo – que deve estar baixíssimo.

Aprender a germinar grãos de trigo, centeio, aveia, lentilhas, feijão, girassol, etc, é o outro fator essencial da alimentação viva. Pode parecer complicado num primeiro momento, mas não é. O grão de bico, por exemplo, após ser germinado, fica tão molinho que rende um homus (pasta árabe), sem necessidade de ser levado ao fogão.

Uma das receitas mais divulgadas por Gonzalez é o suco verde, uma poderosa fonte de nutrientes e antioxidantes. Deve ser tomado todos os dias em jejum, antes do café da manhã (confira receita). “Comecei a prepará-lo diariamente, porque tenho um irmão de 49 anos cardíaco, hipertenso e diabético”, conta a atriz Silvana Belizario, de 37. “Em três meses, ele recuperou 30% da sua capacidade cardíaca e eliminou três dos dez remédios que toma.”

Segundo Gonzalez, a maior parte das doenças tem como pano de fundo um padrão alimentar – baseado em gorduras, amidos e açúcar – gerador de radicais livres e de alterações metabólicas que causam obesidade, hipertensão, diabetes, distúrbios do colesterol e da menopausa, câncer, artrite reumatoide e envelhecimento precoce. “Ao abandonar ou reduzir o consumo do que chamo de ração industrial contemporânea, os resultados positivos aparecem em pouco tempo”, avisa o médico.

Após terminar o curso, os alunos tornam-se pacientes e são atendidos por Gonzalez no ambulatório. A partir de uma avaliação médica nos moldes tradicionais, ele prescreve uma terapia específica e acompanha os resultados. Em pouco tempo, nota-se uma redução drástica dos níveis de colesterol, hipertensão, sintoma inflamatório da artrite, obesidade, depressão, além de uma melhora da função intestinal e de um maior equilíbrio da diabete.

A professora Maristella Santos Martins, de 33 anos, começou a preparar o suco para seus filhos e marido apenas eventualmente, pois achava a tarefa trabalhosa. “Mas quando percebi que o funcionamento do meu corpo melhorou, assim como o humor, memória e vitalidade, passei a investir cada vez mais na alimentação viva, até que virou um hábito”, fala.

Fonte: O Estado de São Paulo

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