Elas caíram no gosto dos chefs e têm benefícios poderosos para o organismo. Saiba mais sobre as PANC
Sabia que até pouco tempo, a rúcula era considerada uma erva daninha? Pois é, existem muitas plantas e flores que podem servir de alimento, mas raramente são usadas na cozinha, seja por questões regionais, pelos mitos que as envolvem ou simplesmente por serem vegetações rasteiras consideradas pragas por agricultores. Elas são as PANC – plantas alimentícias não convencionais – que ganham cada vez mais destaque e reconhecimento ao serem inseridas na cozinha contemporânea de chefs renomados ou de pessoas que buscam alternativas para uma alimantação cada vez mais natural e variada – caso das dietas plant based.
Tal termo foi cunhado pelo biólogo e botanista Valdely Kinupp, pioneiro no estudo dessas espécies no Brasil. Em seu livro “Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil”, Kinupp traça um panorama e lista grande parte desse tipo de planta, explicando suas propriedades e desmistificando sua fama de “ervas daninhas”. Entre as PANC mais famosas, estão plantinhas e ervas usadas como tempero ou usadas em infusões, como a ora-pro-nóbis, a beldroega, a erva-de-santa-luzia e a capuchinha. A sigla serve também para designar folhas e flores de alimentos já conhecidos que, em geral, comemos apenas uma de suas partes – por exemplo, as folhas de vegetais e raízes como batata-doce, beterraba, cenoura, rabanete e mandioquinha.
Segundo a cozinheira e antropóloga, especializada em cozinha de vegetais, Rafaela Soldan, algumas destas espécies são, de fato, tóxicas se consumidas cruas, porém podem ser consumidas quando refogadas ou branqueadas, após serem escaldadas em água quente. “É o caso das folhas ou rizomas da taioba, por exemplo, que contêm alto nível de oxalato de cálcio, um componente tóxico encontrado na planta ainda crua”, explica. Ela ainda atenta sobre o fato de algumas espécies ainda não serem conhecidas amplamente, portanto indica a busca de informações seguras antes de consumir e inseri-las na alimentação.
Muito antes de serem consideradas como plantas alimentícias não convencionais, algumas espécies fazem parte de culinárias regionais e pratos típicos brasileiros há gerações, principalmente em pratos oriúndos da culinária indígena. “Nos estados amazônicos temos o tacacá (prato realizado com caldo de tucupi e jambu, uma PANC) e a maniçoba, feito com as folhas da mandioca maniva. Em Minas, o famoso frango com ora-pro-nóbis ou refogado com folha de taioba. Em Goiás, arroz com pequi. No interior de São Paulo, refogado de folhas de abóbora, a cambuquira ou de folhas de batata-doce. No vale do Ribeira, a tradicional cachaça curtida com folhas de cataia”, conta Rafaela.
Nutricionalmente falando, estas plantas adquiriram uma grande resistência aos predadores e, com isso, ganharam um teor proteíco grande e repleto de fitoquímicos, o que auxilía o organismo no combate a processos inflamatórios. Portanto, uma dieta rica em diversidade vegetal será sinônimo de um sistema imunológico forte e saudável. Quer acrescentar as PANC na sua dieta? Começe com a cúrcuma (também conhecida como açafrão-da-terra), ora-pro-nóbis e beldroega – que são fáceis de achar em feiras in natura ou na versão em pó.
Fonte: Revista Casa e Jardim